Exposição permanente de fotos no MPT alerta para drama do trabalho escravo

Rostos que revelam a degradância da condição humana de trabalhadores são o principal foco da exposição dos premiados fotógrafos Sérgio Carvalho e João Roberto Ripper aberta nessa quinta-feira (30/05) no Memorial do Trabalhador do Ministério Público do Trabalho (MPT).

O espaço cultural fica localizado na sede do órgão, na Avenida Sete de Setembro, 2.563 – Corredor da Vitória, e fica em exposição permanente de segunda a sexta das 8h às 15h30. A entrada é gratuita. A solenidade de abertura contou com a presença de diversas autoridades representando todos os parceiros envolvidos na viabilização da mostra.

A exposição é resultado de parceria entre o MPT na Bahia, o Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais do Trabalho (Sinait) e o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, através da Secretaria Nacional de Proteção Global e da Comissão Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae). Os fotógrafos cederam gratuitamente os direitos autorais das imagens. Sérgio Carvalho, que além de fotógrafo é também auditor-fiscal do trabalho com larga experiência em operações de combate ao trabalho escravo foi o responsável pela montagem da mostra.

“É uma honra para o MPT receber no Memorial do Trabalhador esta exposição, que, mais do que retratar essa chaga social que ainda persiste em nosso país, é capaz de sensibilizar a sociedade para desenvolver um novo olhar para a questão do trabalho análogo ao de escravos”, afirmou o procurador-chefe do MPT na Bahia, Luís Carneiro. Essa necessidade de mexer com a opinião pública também foi destacada por Sérgio Carvalho: “Não existe combate ao trabalho escravo sem fotografia, que é usada para sensibilizar as autoridades, mas o que temos aqui não é uma fotografia técnica e sim artística, que pretende dizer muito mais a cada um de nós”.

O secretário nacional de Proteção Global, Sérgio Queiroz, se mostrou entusiasmado com o resultado do trabalho e com o potencial das imagens. “Temos que trazer para cá o maior número de pessoas principalmente crianças para mostrar a elas que a Lei áurea ainda não se cumpriu efetivamente no Brasil e afirmar que jamais devemos submeter nosso semelhante a essas condições de degradância”. Para o subsecretário de Inspeção do Trabalho, Celso Amorim, “esse tipo de iniciativa deve ser cada vez mais utilizado, levando exposições como essa para todo o país”.

Também presente à solenidade de abertura da mostra, a curadora do Memorial e procuradora regional do trabalho aposentada Adélia Marelin, se emocionou ao falar para os presentes. “Este Memorial ganha hoje uma belíssima exposição e as pessoas têm mais um atrativo para vir conhecer a história do órgão e dos direitos trabalhistas”, destacou. Já o coordenador geral da Conaete, Dante Viana, lembrou que, assim como as ações de combate ao trabalho escravo, essa mostra é fruto da união de esforços de várias instituições. “Conseguimos fazer essa exposição utilizando pouquíssimos recursos, mas envolvendo o trabalho de órgãos e entidades”.

Abolição - Para o juiz do trabalho e diretor da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da Bahia (Amatra5), Guilherme Ludwig, “a magistratura trabalhista está e estará sempre ao lado de iniciativas que promovam a reflexão e alertem para os problemas existentes nas relações de trabalho”. Já a superintendente regional do Trabalho, Gerta Schulze, a mostra traz uma possibilidade de enxergar a questão de uma nova forma. “Aqui, a gente tem de ver não com os olhos, mas com a alma. É um choque que atrai a atenção para o processo mal acabado de abolição”, declarou.

Também presente, o secretário estadual de Trabalho, Emprego Renda e Esporte, Davidson Magalhães, fez um relato de ações promocionais desenvolvidas pela secretaria que comanda e em parceria com outras instituições e destacou a importância desse tipo de ação. “Num momento em que vemos o retrocesso em relação a direitos trabalhistas se avolumar, é preciso que façamos um esforço para sensibilizar não só as autoridades, mas toda a sociedade para a necessidade de lutar por relações de trabalho dignas. O estado também esteve representado pelo superintendente de Direitos Humanos, Jonas Carvalho, e pelo coordenador da Agenda Bahia do Trabalho Decente, Hildásio Pitanga.

Para presidente da Delegacia Sindical da Bahia do Sindicato dos Auditores-Fiscais do Trabalho, Roberto Miguel, “se a sociedade tivesse a real noção do que nós auditores vemos nessas operações de combate ao trabalho escravo teria certamente uma outra postura em relação ao problema. Por isso, essa exposição ganha tanta importância. O evento ainda foi prestigiado pela major Denice Santiado, coordenadora da Ronda Maria da Penha da Polícia Militar da Bahia, representando o comando geral da corporação, e o coordenador da Comissão Estadual para Erradicação do Trabalho Escravo da Bahia (Coetrae), Admar Fontes Júnior.

História – Presente ao evento por estar em Salvador para participar de um congresso de direito sindical, o ex-procurador-geral do trabalho e atualmente aposentado do MPT, mas exercendo a advocacia, Luís Camargo, fez um relato de sua atuação no combate ao trabalho escravo. Foram dele as primeiras ações do MPT nessa área e ele também foi pioneiro na participação de procuradores do trabalho nas ações do Grupo Móvel, unidade responsável pelas ações fiscais.

“Lembro que ainda em 1992, recebi ainda na unidade do MPT do Rio de Janeiro, onde trabalhava, a primeira denúncia de trabalho escravo encaminhada ao órgão e segui imediatamente para o local”, relatou. Naqueles tempos de pioneirismo, o Brasil voltou a perceber que ainda não havia se livrado completamente da escravidão. A partir de então, foi criado em 1995 no Governo Federal o Grupo Móvel, vinculado ao então Ministério do Trabalho, que de lá para cá tem sido fundamental para coibir a degradação de trabalhadores.

O Memorial do Trabalhador foi instalado em 1997, quando o Ministério Público do Trabalho na Bahia criou o seu Centro Cultural, sediado em casarão em estilo art nouveau, localizado na entrada do terreno que ocupa no Corredor da Vitória. O espaço é aberto à visitação pública e passou por uma ampla reestruturação em 2017, quando passou a funcionar efetivamente como centro de memória, abrigando exposições, recitais, lançamentos de livros e outros eventos culturais.

 

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